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Imagine que avançamos para o ano de 2100. A meta estabelecida pelo Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura da Terra em 1,5oC não foi cumprida. Pelo contrário, as emissões continuaram a aumentar. O ser humano tem uma grande dificuldade em mudar hábitos há muito enraizados. Apesar das tentativas elas não foram suficientes e as consequências para a vida cotidiana chegaram a todos os cantos do planeta.
Caso queira ter uma ideia de como será esta vida, há diversos livros a respeito, filmes e séries, todos criados com base em dados científicos, como o excelente: “The Ministry for the Future”:
Como também a excelente série “Extrapolations”, a qual inicia em 2037 e finaliza em 2070.
Por vezes não bastam os dados, não basta a ciência, não bastam as evidências. Se pudermos “enxergar” de alguma forma o quê pode acontecer, a chance de sermos impelidos a agir com um senso maior de urgência seja maior. Assim como ajuda a disseminar para mais pessoas informações com base na ciência.
E se pudéssemos extrapolar a vida executiva e como os papéis serão desempenhados? Como deverá agir um conselheiro que seja parte de uma grande empresa, daqui até 2.100 e além?
Será que a performance financeira, os números, continuarão a prevalecer sem contabilizar os usos que se faz da natureza para produzir qualquer bem ou serviço? Lembrando que quando uma matéria-prima se torna escassa diversas questões complexas são disparadas. Até hoje a água, o ar e os demais serviços ecossistêmicos são prestados sem a devida remuneração.
Caso você seja um C-level, membro de comitê, ou conselho, os temas de Natureza ou clima fazem parte de quantas reuniões durante o ano? Qual é mais importante? Qual a profundidade em que são abordados?
Para as discussões do conselho, tanto a natureza quanto o clima são igualmente importantes, embora muitas vezes estejam interconectados e influenciem um ao outro. A mudança climática é um fator significativo de perda da natureza e, inversamente, ecossistemas saudáveis desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas. Os conselhos precisam considerar ambos como parte de suas avaliações estratégicas de riscos e oportunidades.
Durante a última COP da Biodiversidade, a COP 16, estes foram alguns dos destaques:
- A natureza é um imperativo a ser tratado nas salas de conselho, pois a resiliência da natureza sustenta a resiliência dos negócios. Os fluxos de caixa futuros podem depender da provisão sustentada de serviços ecossistêmicos.
- As dependências e impactos da natureza são inerentes a todas as operações de negócios, e os conselhos precisam reconhecer essas conexões de forma proativa. Perguntas simples como “como nosso negócio depende da natureza?” pode iniciar discussões críticas.
- Há uma mudança crescente da consciência da natureza para a implementação ativa, abrangendo tanto a gestão de riscos quanto novas oportunidades. Os diretores precisam abordar a natureza com o mesmo rigor estratégico aplicado aos riscos climáticos.
- Os compromissos “positivos para a natureza” podem se alinhar aos deveres dos acionistas e fornecer uma vantagem competitiva por meio de maior reputação e licença social.
- Ao contrário do clima, as métricas da natureza são mais complexas e menos universais, muitas vezes exigindo abordagens criativas e localizadas. Devemos trazer a natureza para o balanço. Vá e visite a natureza; Os membros do conselho podem se afastar muito das operações. “A visita pode ser um momento muito revelador sobre como ter um melhor desempenho”. – Marcelo Behar, Conselheiro Sênior COP30, WBCSD
Agora, se você é um membro de conselho ou comitê quais perguntas precisa fazer?
O documento a seguir é uma excelente fonte.
Há diversas iniciativas para incluir a natureza na análise de impactos, riscos e oportunidades.
O Task Force for Nature-Related financial Disclosures – TNFD, que é uma estrutura abrangente para a orientar a incorporação da biodiversidade nos negócios é uma das principais. Para iniciar ele recomenda os seguintes passos:
Principais etapas a considerar ao iniciar a avaliação e divulgação relacionadas à natureza:
1. Aprofundar sua compreensão dos fundamentos da natureza;
2. Defender a natureza do ponto de vista comercial e obter a adesão do conselho de administração e da direção;
3. Começar com o que tem, aproveitando outros trabalhos;
4. Planejar a progressão ao longo do tempo e comunicar seus planos e sua abordagem;
5. Incentivar o progresso coletivo através do envolvimento;
6. Monitorar e estimar o progresso da sua própria adoção;
e 7. Registrar sua intenção de começar a adotar as recomendações da TNFD.
https://tnfd.global/recommendations/getting-started-with-tnfd/
Recentemente, a Bridge3, convidada para falar em um dos painéis do evento de “Biodiversidade nos negócios”, promovido pela Coalizão LIFE (instituição dedicada a incluir a biodiversidade nos negócios), trouxe o assunto da Governança Corporativa ao novo cenário comercial global.
Com a crescente pressão regulatória, geopolítica e econômica, aqueles que se cercarem de um maior conhecimento de suas cadeias de valor, do reconhecimento e da escuta dos diversos stakeholders e assim incorporarem nos planos estratégicos um road map de transformação compatível com a necessária regeneração dos recursos até aqui utilizados, de forma a garantir um presente e futuro de oportunidades, serão os sobreviventes do amanhã.