Você carrega o mundo ou o mundo te carrega?

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Durante muito anos da minha carreira como editora, uma das funções que eu adorava exercer era falar dos autores e suas obras para as editoras do exterior, em um esforço hercúleo para fazer o inverso do que era a regra do mercado, principalmente para os livros técnicos, vender direitos autorais e não adquirí-los.

Foi este trabalho que inspirou o designer e grande amigo Helio de Almeida, infelizmente já falecido, a desenhar a Daniela carregando o mundo em suas mãos. O desenho ficou perdido em uma caixa durante anos e há pouco tempo foi resgatado.

Ao olhar para ele detidamente vejo como o mundo de novo me carregou para uma nova função não menos hercúlea, ajudar a transformar as empresas e os profissionais por meio da governança e da sustentabilidade.

Foi então que pedi a Eliane Otani, minha grande parceira nestas aventuras da vida profissional a olhar para o desenho com esta nova visão. E ela buscou na IA este complemento. Tudo a ver com o momento atual no qual incorporamos a IA como meio para destravar a criatividade humana.

A ética e o uso de IA

As discussões em torno da ética do uso da IA, dos direitos autorais sobre os conteúdos usados para a IA generativa são bastante pertinentes. É preciso continuar valorizando quem produz conteúdo, pois sem novas bases não há que se falar em renovação de conhecimento.

Ouvi de uma grande especialista em IA, durante uma palestra no IBGC, que o quê importa hoje é “Promptear” e que os conteúdos precisam ser liberados. Sim, faz uma enorme diferença o modo como você pergunta para a IA, mas sendo ela mesma autora de diversos livros causa espanto a afirmação sobre os conteúdos a que ela se referia.

Há diversos precedentes nos EUA de processos de empresas como The New York Times contra Open IA, por exemplo. Estes alegam o “Fair use”, precedente existente na lei americana para o uso de trechos para determinados fins. Aqui no Brasil não temos uma lei equivalente.

A opção que está se desenhando, para alguns casos, é o licenciamento sobre o uso do conteúdo. Algo que existe no mercado há muitos anos e que remunera em cadeia os criadores de conteúdo.

Does generative Artifical Intelligence infringe copyright?

Fato é que criar conteúdo é um trabalho como outro qualquer e, como tal, precisa ser remunerado adequadamente. Alegar que as criações atuais são fruto das criações passadas não deixa de ser verdadeiro, mas a originalidade constitui-se nas conexões entre estas bases.

A IA generativa tem, cada vez mais, aprendido sobre as bases de conhecimento existentes. Diferente do cérebro humano os data centers não param e acabamos em desvantagem neste processamento infinito.

Para quem tem filhos em idade escolar é assustador pensar em como será o mundo que eles irão carregar nas mãos. Esperamos que a inteligência humana continue a prevalecer, mesmo em um mundo que não sabe mais como se desconectar.