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O ESG no mercado financeiro entrou em uma nova fase. A atratividade dos produtos sustentáveis permanece, mas agora acompanhada de maior inspeção técnica e regulatória. Investidores estão mais exigentes; os reguladores, mais atentos; e as gestoras, pressionadas a estruturar melhor seus processos, suas métricas e suas narrativas. Enquanto a Europa identifica falhas relevantes na aplicação do Sustainable Finance Disclosure Regulation, Regulamento Europeu de Divulgação sobre Finanças Sustentáveis (SFDR), o Brasil avança com maior fluxo para fundos ESG, porém com perfil mais conservador. A mensagem é clara: não basta parecer sustentável, é preciso comprovar com governança, risco bem gerido e entregas verificáveis. O momento pede mais consistência e menos improviso.
O investidor ESG brasileiro
De janeiro a setembro de 2025, os fundos ESG brasileiros aumentaram em quase 30% seu patrimônio, de acordo com o Itaú BBA. No entanto, 78% do crescimento veio de produtos de renda fixa, enquanto os fundos de ações perderam participação. A preferência do investidor por instrumentos menos voláteis se mantém mesmo diante da agenda sustentável. Essa movimentação mostra que o investidor ESG brasileiro busca segurança e pode estar desconfiado da entrega real de fundos de ações com viés sustentável. Isso pressiona os gestores a oferecerem mais do que rótulo: precisam mostrar tese clara, impacto concreto e retorno ajustado ao risco.
Principais tendências e estratégias
- Dominância da renda fixa: o crescimento recente foi largamente impulsionado pelo segmento de renda fixa ESG, que responde por 78% do patrimônio total ESG, uma tendência sintomática do cenário de juros altos no país.
- Rentabilidade de longo prazo: apesar da retração no segmento de ações em 2025, no longo prazo (desde abril de 2022), os fundos de ações IS (Investimento Sustentável) apresentaram um desempenho superior ao do mercado de fundos de ações geral (41% contra 21,9%).
- Classificação dos fundos: dos 193 fundos ESG ativos no Brasil, 127 são classificados como fundos IS (com compromisso formal e integração efetiva de critérios ESG).
- Estratégias de integração: o método de integração ESG mais utilizado pelos fundos IS é o Negative Screening (exclusão de setores como carvão, armas ou tabaco), presente em 94% dos ativos.
- Foco dos critérios: os critérios ambientais são considerados em 57% do patrimônio, com mudança climática (41%) e emissões de GEE (13%) sendo os temas mais monitorados. Nos critérios sociais (43% do patrimônio), o destaque é para engajamento, diversidade e inclusão (41%).
A Resolução CVM 175 no mercado brasileiro
A Resolução CVM 175 representa uma transformação significativa no mercado brasileiro de investimentos, buscando alinhar a legislação de fundos a padrões internacionais e fortalecer o arcabouço regulatório para o desenvolvimento do tema ESG. A norma estabelece critérios claros para a classificação de fundos de investimento sustentáveis e climáticos, permitindo que os investidores identifiquem produtos que geram impactos ESG positivos autênticos e desde a criação da norma, em 2022, há uma busca por clareza nos critérios para a classificação desses tipos de fundos de investimento.
Pontos-chave para a Gestão Executiva:
- Combate ao greenwashing: a resolução estabelece critérios claros para a classificação de fundos de investimento sustentáveis e climáticos, permitindo que investidores identifiquem fundos que geram impactos ESG positivos autênticos.
- Novo ativo financeiro: a CVM 175 reconheceu o crédito de carbono como um ativo financeiro.
- Desafios operacionais: há uma necessidade urgente de amadurecer o monitoramento dos fundos e a definição de métricas para mensurar o impacto, visto que hoje não existe um padrão estabelecido.
- Capacidade e custo: é fundamental o desenvolvimento da capacidade interna de análise ESG nas gestoras, estendendo essa avaliação a uma parcela maior do portfólio. No entanto, é preciso gerenciar o risco de que o aumento do custo administrativo, decorrente dos novos requerimentos, possa prejudicar a rentabilidade e a atração de capital.
- Engajamento: a colaboração entre gestoras, clientes, autorreguladores (ANBIMA) e empresas é crucial para desenvolver metodologias robustas e garantir a autenticidade dos fundos, o que, em última análise, permitirá a entrega de valor para a sociedade.
COP 30, taxonomia e mercado de carbono
A realização da COP30 no Brasil também está impulsionando o mercado de fundos sustentáveis, que já alcança R$ 50 bilhões em patrimônio distribuído em cerca de 250 fundos. Este interesse não é apenas conjuntural, mas está ligado à visibilidade do evento e à maturidade do mercado, que inclui variáveis como:
- Perfil do investidor: o crescimento é atribuído à convicção de investidores (incluindo pessoas físicas, institucionais e estrangeiros) que buscam que o retorno aconteça por meio de boas práticas.
- Alocação estratégica: os recursos estão sendo direcionados para setores estratégicos, como transição energética, adaptação climática e blended finance (estruturas que combinam recursos públicos e privados para amplificar o impacto).
- Visibilidade e estrutura: a COP30 trouxe visibilidade e mobilização, estimulando discussões cruciais sobre a taxonomia brasileira e o mercado de carbono.
- Desafio estrutural: o foco dos executivos e reguladores deve ser transformar esse boom de captação em mudança estrutural, consolidando os investimentos sustentáveis como um vetor de crescimento de longo prazo.
Fonte: https://bpmoney.com.br/economia/cop30-impulsiona-corrida-a-fundos-sustentaveis-no-brasil/
Novo arcabouço regulatório da Previc deve impulsionar investimentos sustentáveis em fundos de pensão a partir de 2026
Em linha com os assuntos já abordados anteriormente, há também a expectativa de um novo arcabouço regulatório da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que deverá impulsionar significativamente os investimentos em fundos sustentáveis por parte dos fundos de pensão brasileiros a partir de 2026. Algumas movimentações de cunho institucional já podem ser observadas, tais como:
- Estímulo regulatório: a modernização das regras da Previc, esperada para ser anunciada ainda em outubro, em conjunto com a autorregulação da ANBIMA, deve criar um maior estímulo aos investimentos sustentáveis.
- Foco em infraestrutura: o setor tem visto o desenvolvimento de produtos específicos, como fundos de infraestrutura IS (Investimento Sustentável) voltados para entidades fechadas de previdência complementar e outros investidores institucionais como fundos soberanos e o BNDES.
- Impacto da Selic: esses projetos de infraestrutura, que muitas vezes não são competitivos com taxas de juros elevadas, devem ganhar força à medida que a taxa Selic começar a ser reduzida a partir de 2026.
Dica de leitura
GUIA ASG II: Aspectos ASG para gestores e para fundos de investimento
Este guia da ANBIMA estabelece os critérios e procedimentos de autorregulação para a identificação de fundos de investimento sustentável (IS) no Brasil. O principal objetivo é promover a transparência e mitigar o risco de greenwashing no crescente mercado de investimentos em fatores ambientais, sociais e de governança (ASG). O documento detalha os requisitos para gestores e para os próprios fundos—abrangendo ações e renda fixa inicialmente—que buscam a designação IS ou que integram questões ASG em sua gestão.
https://www.anbima.com.br/data/files/93/F5/05/BE/FEFDE71056DEBDE76B2BA2A8/Guia_ASG_II.pdf
Livro ESG nos mercados financeiro e de capitais
Nessa obra, os autores abordam itens necessários ao entendimento da complexidade da agenda ESG nos mercados: regulação e autorregulação, taxonomia, indicadores, deveres, cases, regras internacionais, arbitragem, diligência, engajamento e stewardship, tipos de investimento, gestão de riscos. https://www.amazon.com.br/ESG-nos-Mercados-Financeiro-Capitais/dp/6555752602
O mercado de capitais brasileiro está vivenciando um período de intensa convergência regulatória e crescimento robusto, que coloca o ESG no centro da alocação estratégica de capital. A sinergia entre o crescimento impulsionado por eventos como a COP30, a consolidação de regras como a CVM 175 e a expectativa de um novo arcabouço da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) sinaliza que a sustentabilidade não é mais uma opção, mas sim um vetor de crescimento estrutural.
Neste panorama, a pressão mais imediata não é apenas sobre a conformidade, mas sobre “como usar o dinheiro para, de fato, buscar o desenvolvimento sustentável”. Enquanto a atratividade da Renda Fixa impulsiona o patrimônio sob gestão (AuM), o mercado de Ações Sustentáveis prova, no longo prazo, ser um gerador de valor superior ao mercado geral. Para navegar com sucesso neste ambiente, os líderes devem focar no amadurecimento de métricas e monitoramento (atualmente sem padrão definido) e na expansão da capacidade interna de análise ESG. A vigilância regulatória, como demonstrado pelas ações da ESMA na Europa, é global, exigindo que a autenticidade dos produtos e a robustez das metodologias se tornem prioridades máximas para garantir não apenas a atração de capital, mas a entrega de valor sustentável aos cotistas e à sociedade.
A jornada ESG exige preparação constante, portanto, conte com a Bridge3 como parceira neste caminho.
Até a próxima edição!